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Fornos de cal de Pataias investigados há 18 anos
19 setembro 2019

Data de 2001 a primeira investigação e publicação sobre os fornos da cal de Pataias, que, apesar desse estudo não o referir, já laboravam em 1723, se expandiram depois das invasões francesas em 1814, tendo sofrido uma grande evolução a partir de 1850. Quase cem anos depois, em 1944, havia 41 fornos em laboração, o máximo alguma vez atingido, até a empresa Cibra começar a comprar os terrenos onde se encontravam os fornos para a fábrica e as pedreiras. Em temos de produtividade dos fornos de Pataias, o destaque vai para a década de 1960, tendo o último forno estado activo até 1995. O número de fornos que chegou à actualidade (31) faz dos exemplares de Pataias (distribuídos pelos núcleos da Brejoeira e dos Olhos d’Água) o maior conjunto existente em Portugal.
Nessa primeira investigação, há 18 anos, o investigador António Valério Maduro publicou um trabalho sobre os fornos no ‘Roteiro Cultural da Região de Alcobaça: a Oeste da Serra dos Candeeiros’. No entanto, esse estudo apresentava algumas lacunas, como o facto de existirem mais fornos no activo do que aqueles que a investigação sugeria. Por outro lado, noutro artigo, inserido na publicação de 2011 ‘50 coisas de escrita vária Alcobacense’, Valério Maduro concluiu que os fornos de Pataias surgiram devido à decadência dos fornos nas Serras de Aire e Candeeiros. Os fornos sempre foram de pessoas de Pataias, nomeadamente pela forte tradição existente na família Ribeiro, que já possuía fornos em 1807, esclarece o historiador e investigador Tiago Inácio, que tem promovido o estudo exaustivo dos fornos de Pataias a pedido da União de Freguesias de Pataias e Martingança.
Quando Tiago Inácio iniciou o trabalho de investigação e de contributo para a preservação desse património, em 2015, tinham passado 11 anos durante os quais os fornos foram esquecidos. Antes disso, em 2011 realizou-se apenas uma caminhada, promovida pelo grupo Sola de Alparcata, com passagem por alguns fornos acompanhada de uma breve explicação.
Em maio de 2015 foi demolido o forno de António Vieira Vaz e o alerta surgiu na rede social Facebook, com eco na imprensa regional, tendo gerado alguma indignação. A partir daí, entre maio e julho do mesmo ano, a Junta conseguiu o apoio de antigos trabalhadores e industriais, o que permitiu a realização do primeiro inventário dos fornos da cal de Pataias. Nos dois meses seguintes, a Junta promoveu uma série de limpezas, preparando aquele património para as Jornadas Europeias do Património, quando os fornos foram objecto de uma visita guiada, que se voltou a repetir no âmbito das mesmas jornadas, em setembro de 2017, ano em que a União de Freguesias de Pataias e Martingança aderiu ao Projecto de Investigação Arqueológica para o Estudo dos Fornos de Cal - FORCAL. Nos primeiros dias de dezembro de 2017, foi efectuado novo levantamento dos fornos, desta feita com medições a cada exemplar, pelo arqueólogo Fernando Ricardo Silva, Ana Leitão, ambos do FORCAL, e o historiador Tiago Inácio, por parte da Junta. Os dados foram publicados por Fernando Ricardo Silva na revista Al-Madan em julho de 2018.
Em janeiro de 2018, a equipa da Junta deu início ao primeiro estudo intensivo dos fornos de Pataias, que ainda decorre. Nele se inclui a investigação documental em diversas frentes (nos arquivos de tribunais, notariado, Governo Civil e particulares), várias visitas ao terreno, entrevistas a antigos proprietários e trabalhadores, recolha e preservação de ferramentas, escavações e limpezas, levantamento de painéis de azulejos, estudo de pedreiras e estudo da genealogia dos industriais de cal, para melhor conhecimento da ligação entre os proprietários dos séculos XIX e XX. O trabalho efectuado será reunido numa publicação científica, ainda sem data prevista de lançamento.
No próximo dia 22 de setembro, Tiago Inácio será o orador do tema ‘Os fornos de cal de Pataias - uma luta pelo património local’, no âmbito do Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó, que decorre em Alvaiázere.
in: Pataias à Letra